Sem crônicas – Entre sons

Izabella Cristo
2 min readJan 5, 2025

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Entre o grito e o vácuo, há o som. Há o tom, há o timbre. Tem-se a voz.

Entre a fala e o silêncio, há o sussurro. E o sussurro das coisas é o que me assusta.

É o sussurro. O som que cutuca.

O sussurro é o miúdo da voz, é o sopro fino do som, ora excita, ora incomoda, ora assusta.

O sussurro cutuca.

Cutuca o tímpano, faz a membrana da incógnita vibrar, por que você não fala, não fala, vai, grita, não, vai não, mas não cala. Você sussurra.

O sussurro das coisas tem mais força que a luta.

A luta é do corpo. Da amplitude, da incompletude, da tola força antagônica que teima em abater o ar, a torto.

O sussurro é um gozo. É um engodo, uma coisa que sussurra nunca se cala, nunca fica muda, ela incomoda, molda, encrosta e, de tão insistente, muda.

O medo magno não fica no grito do desespero, na voz do destempero, no silêncio do consentimento, não. O medo maior está dentro das coisas que sussurram, daquelas coisas que nunca mudam e que nunca ficam mudas enquanto não emergirem do fundo, enquanto não ganharem um claro som, um claro tom, um claro timbre, enquanto não deixem de ser sussurro.

Mudo.

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Written by Izabella Cristo

Me Escondo Aqui. Escritora✒️, Cirurgiã🔪Mãe👻,em relacionamento sério com as palavras. Livros: Vida Nada Moderna, Retratos da quarentena. www.izabellacristo.com

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