Sem crônicas – Entre sons
Entre o grito e o vácuo, há o som. Há o tom, há o timbre. Tem-se a voz.
Entre a fala e o silêncio, há o sussurro. E o sussurro das coisas é o que me assusta.
É o sussurro. O som que cutuca.
O sussurro é o miúdo da voz, é o sopro fino do som, ora excita, ora incomoda, ora assusta.
O sussurro cutuca.
Cutuca o tímpano, faz a membrana da incógnita vibrar, por que você não fala, não fala, vai, grita, não, vai não, mas não cala. Você sussurra.
O sussurro das coisas tem mais força que a luta.
A luta é do corpo. Da amplitude, da incompletude, da tola força antagônica que teima em abater o ar, a torto.
O sussurro é um gozo. É um engodo, uma coisa que sussurra nunca se cala, nunca fica muda, ela incomoda, molda, encrosta e, de tão insistente, muda.
O medo magno não fica no grito do desespero, na voz do destempero, no silêncio do consentimento, não. O medo maior está dentro das coisas que sussurram, daquelas coisas que nunca mudam e que nunca ficam mudas enquanto não emergirem do fundo, enquanto não ganharem um claro som, um claro tom, um claro timbre, enquanto não deixem de ser sussurro.
Mudo.