Sem crônicas — Vômito de poeta
Aconteceu do poeta esquecer de escrever sobre qualquer outra coisa que o valha, pois o teísmo da vida lhe esmaga, lhe impedindo de pensar em anedotas.
As histórias da mente por ora estão mortas, pois, por vez, escrevermos somente memórias.
O poeta já não sabe se a literatura imita a vida ou a complementa. Se a sustenta, transforma ou inventa. Ou se nem tenta. O poeta já nem sabe onde está. Na vida , às vezes há de vagar.
Certas ocasiões o poeta só escreve. Não embeleza. Não conta. Só espanta.
Espanta os velhos hábitos, os espantalhos, os fantasmas, os murmúrios do faz de conta.
Alguns humanos conseguem ignorar, mas o poeta não: ele nunca fica alheio. Rabisca forte, escreve feio, deságua anseios e medos. Pinta e orna em letras tortas o desespero, para sentir o mesmo descer macio e manso pelos dedos.
O poeta bem que poderia aprender a separar a parte que escreve, da parte que vive. Descolar a mente que cria criaturas malignas daquela insiste em enfrentar o oco duro da realidade. Mas eles são lados da mesma face.
A vida não imita a arte. É a vida que a faz. Sem olhos, não há o que se enxergar detrás. A arte constrói os pedaços de vida contida e desalinha.
É a lenha dessa fogueira de sentimentos, angústias e pensamentos da experiência humana.
É o saber, o rumo, o estudo do desconhecido, do inexplorado, do acaso dentro de tudo que eu conheço e que menosprezo. Até mesmo do invisível ou insensível a mim.
A arte é o copo de vida que transborda, faz nascente, por não caber em si e na própria mente no cálice do conhecimento.
É um descontentamento, contente de que em algum lugar do mundo há de se fazer presente.
💕👏
Trocar ideias?