Sem crônicas- Oficina das palavras
Declamas um texto, de sua autoria.
O público te escuta. Ouvidos atentos ao som das palavras. Os olhos no quadro. Ninguém te vê.
A voz embarga um pouco. Saem umas poucas sílabas travadas, amargas, porque às vezes é difícil escrever. O público nem nota.
Prossegues a saga. As palavras seguintes já são pequenas agulhadas, frases de um passado morto, que revive, renasce de cinzas e te atrapalham de ler.
Escrever é difícil, mas às vezes é pior rever.
O coração não aguenta, transborda saudade, amargor, um misto de frio e calor que inunda sua voz, agora, afogada. Te atrapalhas. As palavras não saem mais soltas, não são mais livres. A emoção não permite.
O público nota. Não tiram os olhos da tela, mas agora te vê. Percebem o teu esmorecer solitário e vazio naquelas palavras, revisto nas páginas do que um dia será o teu livro. Os escritos de alguma história.
Uma outra voz se oferece para continuar a ler. Aceitas. Alguém te resgata do afogamento das tuas próprias navalhas. Aos poucos, um outro tom te acalma.
É mais fácil, ouvir.
Escrever pela carne é difícil. Ler a carne é difícil. Revolver corpos e as almas é difícil.
Mais fácil quando alguém compreende.
Quando alguém entende e divide o ofício.
O som de um texto, de tua autoria.
O público ouve. Ouvidos atentas ao som das palavras. Os olhos no quadro.
Não importa.
Já veem você.
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