Sem crônicas — Metafísica
Difícil saber para onde uma ponte leva quando se está cimentando o tijolo.
As pontes podem ser grandes. Fogem dos olhos. Podem cegar a vista.
Mas não ter a visão de tudo não quer dizer que não exista.
A ponte não é só ponte. É escalada, é ferro, é madeira. Caminho. Argamassa. Pedágio. Fronteira.
Barreira ou trajetória. É ponte. Te leva, te traz, te joga, campeia o horizonte de alguém que está distante.
Cada tijolo assim construído mapeia um futuro.
O que será dos transeuntes, dos pedestres, dos veículos. Dos acidentes, dos passos, dos perigos.
Daqueles pés que, de repente, desejaram se aprofundas nas águas correntes abaixo.
Ninguém saberá.
É difícil saber até aonde a ponte leva.
Por enquanto, navego. Construo o miolo, levando os tijolos, para lá a para cá.
Afinal, uma ponte, para ser ponte, precisar ser concluída. Precisa de estrutura, concreto.
Precisa nascer como ponte.
Para só então, abrir caminhos para a vida.