Sem crônicas — Do pedreiro para a Musa

Izabella Cristo
3 min readAug 13, 2021

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Oi sumida!

Quanto tempo, minha querida.

Amor da minha vida, já tem um tempo que estás desaparecida.

Vem aqui, chega mais. Não vem dizer que é a vida corrida.

Não sabes o bem que me faz te encontrar no dia de hoje. Tava pra baixo, mas logo te vi, foi como açoite. Me veio uma luz, uma ponte, a fonte. Uma estrela a iluminar o breu da minha noite.

Os dias andam meio difíceis. A realidade, essa coroa velha e tosca, insiste em me perturbar, como os cachorros do vizinho do mesmo andar.

Eu sei, eu sei. Ando meio cafajeste. Não tenho feito nada que preste, nada por ti, minha deusa do ébano. Fogo, sabes que eu não nego, mas sabes que preciso de um remelexo no ego. Nunca fui lá um homem completamente honesto, conheces bem os meus princípios. Desde o início. A nossa relação sempre foi um perigo. Nem vem com esse papo de grandes amigos.

Sabes bem o quanto me excitas. Sabes do prazer da minha companhia. Vais dizer que esqueceu as noites de euforia, magia, contos loucos e orgias? Fôlego assim é para poucos. Não somos fracos. Aliás, a gente faz uma boa combinação. Queria eu poder celebrar nossa união com o jus merecimento. Sei que não é coisa de momento, mas respeito lá sua aversão a compromisso.

Deixa pra lá. Já me conformo com minha situação precária. Fazes parte da minha vida, e isso faz com que todo esforço valha as duras penas. Seremos cinema, teatro, prosa e poesia. És a luz da minha vida. Sempre será.

Nem que eu tenha que meditar seu apreço. Te dou tua liberdade, desfrutas tua eterna tenra idade, contanto que sempre voltes ao meu endereço.

Podes ter diversos amantes. Vai lá, pulveriza tua beleza por onde andas. Pega no jeito alguns iniciantes. Eu não ligo. Contanto que voltes sempre aqui comigo de vez em quando.

Já se passaram tantos anos, minha cara, eu sei, no fundo tu nunca me abandonastes. Eu sei que me amas, que gostas não só da minha cama, mas também do meu corpo e, principalmente, do meu coração. Eu também te causo tesão. Nessa história não sou rei, mas não sou o vilão.

Anda, chega aqui. Deixa eu te dar um cheiro. Tô com saudade daqueles velhos tempos em que andávamos agarrados, lado a lado. Quando passávamos o dia inteiro junto, rumo às madrugadas, a suar versos, canções, desenhos e dialetos, numa volúpia incerta de prazer que parecia nunca ser o suficiente.

És um tesão, sabes. Essa enorme atração que me invade e é irresistível. Não posso me conter, a alma é fraca.

Alma de artista canalha.

Vem aqui, me faz mais homem, de novo.

Não, não se vá!

Fica mais um pouco…

Pena que de vez em quando somes, sua safada.

Vai embora e me deixa aqui, às tralhas. Assim meu coração se despedaça.

Fico só, aqui, fingindo que sou um homem bom, mas a verdade é que eu só minto e apenas quando te encontro eu sinto que presto pra alguma coisa.

Eu sei, estou me humilhando.

Não me trate assim…

Cadê a consideração por mim, depois de tudo que passamos e vivemos?

Anda, volta aqui.

Faz tempo que eu não te vejo.

Eu ainda preciso terminar esse texto…

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Izabella Cristo

Me Escondo Aqui. Escritora✒️, Cirurgiã🔪Mãe👻,em relacionamento sério com as palavras. Livros: Vida Nada Moderna, Retratos da quarentena. www.izabellacristo.com