Sem crônicas- Dia Nacional do livro
No dia do livro, celebro as páginas que li. As páginas que vi. As páginas que vivi.
Celebro as páginas, as páginas que escrevi. Tantas e tantas páginas rabiscadas, quanta madeira molhada e prensada gasta, páginas e mais páginas atiradas no cesto da palavra envergonhada.
Celebro as páginas, as páginas perdidas. As páginas não escritas, as páginas das entrelinhas.
Celebro, as páginas, as páginas em branco. As páginas desencanto arrancadas, que secas, diziam tanto, as páginas molhadas, ah as páginas molhadas! De água dos olhos, do balde do poço das memórias, de lama da vala, de marca pisada de pé na chuva, de lama, as páginas de lama.
Celebro.
As páginas vividas. Ah, as páginas de vida. Toscas e enroscadas, de folhas almaço, chouché, sulfite, vergê, jornalescas, fotográficas, de forro, carta ou fosco. As páginas manteiga. As páginas desejo.
Cérebro.
As páginas de livro. As páginas de ofício, as páginas, os livros tormento ou alívio, a perdição, o pecado, o movimento. A azaração, a salvação, a redenção, o lamento. A crítica. A página crítica.
Celebro.
As páginas viradas.
As páginas nunca escritas.
Que deixem que honrem, que demorem. Que venham, que voem. Que abanem. Que venham na hora. Que venham em hora bem vinda.
As páginas da vida celebram.
A página finita.
A última página.
Nunca lida.