Poesia – Meu Lugar
--
Me acusam de ter olhos
Por ter olhos
Por ter olhos pra ver
Me acusam
Deus, me acusam
Por ter olhos para escrever
Me escusam
Me exclusam
Me acusam por viver
Me acusam por ver mais do que você vê
Me acusam
Me perscrutam
Me colocam em lugar comum
Me acusam
Ora, se me acusam!
Por não ser comum
Quem será?
Quem poderia imaginar
Que de um vaso sujo e pobre
Surgiria um dia broto de galho nobre
Me acusam
Será que me acusam?
Por não ser ordinária
Por não ser migalha
Por não ser
Binária
Por não ser sua imagem
Por não ser o que na sua mente cabe
Por não caber
Me acusam
Olham torto e fungam
Ao ver meu corpalma Picasso
Me acusam
Ora, me escusam
Por não ter armário
Por ser livre
Por ser a história que vive nestas memórias
Por ter histórias
Me acusam
E se me recrutam
Para ser o que quero ser
Não aceitam
Não digerem
Assim você não pode ser
Não pode ser!
Não pode ser …
Alguém assim não existe
Você há de perceber
Que você não pode ser
Você
Eu, Picasso
Partido, moído, doendo os pedaços
De ira e ódio
De fé e de espólio
De vazio e de amor
De sangue e de dor
De vida
Compartilho no derrame escrito
Aquilo que nem posso ser
Me acusam
Não posso ser
Não devo ter coração
Se existo
Sou uma ficção
👏🥰