O Capitalismo
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O fim da tarde chega
Traz com ele não o fim,
Mas o começo.
É o início de tudo.
É quando caem os muros da civilização.
O fim da tarde chega,
E esta porção de planeta
Para
e se prepara para o fim do dia.
É quando se pode usufruir a alegria de estar
Sozinha.
O fim da tarde chega,
Traz os pais de volta às mesas
Traz os jantares, as mulheres, os aventais.
Traz os filhos de volta
Recolhe os animais.
Traz as mesas postas
Os talheres, as prosas.
O fim da tarde chega, traz as sobremesas.
Leva às crianças suas mamadeiras.
Leva as crianças para as camas.
Libera as amas.
Traz os sussurros de paz.
O sussurro dos casais.
A louça suja e lavada.
As escadas.
O fim da tarde traz de volta a noite.
Nos lembra que teremos depois do dia
Um merecido descanso.
Desliga as fábricas
Imobiliza as esteiras
Para o avanço.
Mostra nas telas os telejornais
As notícias capitais.
O fim da tarde traz a paz.
O fim da tarde promete o silêncio.
Depois do trânsito, do engarrafamento
Folga a gravata e
Traz o fim do sufocamento.
O fim da tarde pode ser paz para os rapazes
Mas,
O que eles não sabem,
É que algumas mulheres
Seguem do lado avesso do mundo
Sem talheres.
As bruxas,
As astutas,
As prostitutas
E as escritoras,
Têm o relógio na forca.
Acordam depois de lavar a louça.
O fim da tarde
É a liberdade
De quem não vive de cidade
De quem brilha no frio
Da labuta do fastio
Na calada da noite
De quem conversa com os lobos
Daqueles que fazem da noite o fogo da revolução.
O fim da tarde
Traz
O início da Outra Parte
Do gargalo ao contrário da vida
O inverso do planetário das ideias
Da Gravidade
Do outro lado
A vida invertida.
De Dia.