Materna idade – Resultado verdadeiro da pesquisa

Izabella Cristo
2 min readOct 6, 2022

Dia de eleição.

Leonardo e eu na iniciação científica: para que servem os filhos senão para nos ensinar outro modo de viver a vida?

Sentados numa cafeteria de uma rua estreita. Bem estreita. Tão estreita que os carros passam rastelando ao nosso lado.

Sentados.

Sentados, não, porque você não consegue manter sentada uma criança de três anos de idade por mais que 60 segundos. Se alguém conseguir, por favor me ensina a fórmula mágica ou a sedação. Compro a dose mesmo sem promoção.

Sentados no deck, o Leonardo em pé, vendo os carros passarem ao nosso lado. Vendo não, porque você não consegue fazer uma criança de três anos só ver alguma coisa. É obrigatório algum tipo de toque ou interação.

“Oi!”, Leonardo grita.

O flanelinha se surpreende. E ri. Responde.

“Qual é seu nome?”, meu filho enxerido.

O homem responde. Na sequência pergunta o nome dele.

“LeonaLdo”

Um carro para ao nosso lado com a janela aberta.

“Oi!”, lá vai Leonardo de novo.

A mulher se surpreende, sorri e responde. Da mesma forma pergunta, ele, orgulhoso, repete.

“LeonaLdo”

O semáforo abre e fecha rápido. Permite que apenas um ou dois carros passem por vez.

O carro seguinte está de janela fechada.

Eu o cutuco, “Léo, vamos ver se ele abre?”

Ele começa a cantar:

“Abre, abre!”, batendo palmas.

“Oi!” e agora eu me surpreendo, uma janela se abre.

As pessoas se espantam, carregam todas um ínfimo segundo de desconfiança, mas como uma agulhada que passou, logo sorriem. Acham graça da inocência daquela criança falar Oi com um estranho e perguntar o seu nome.

Algumas Julianas, Ivos, Marias, Carlos, Pedros e Aguinaldos depois, algum grau de choro e moderada dificuldade (tente fazer uma criança de três anos desistir fácil de alguma atividade), demos “Tchau, pessoal.”

Final da pesquisa: índice de 95% de janelas abertas.

Fator de independência: janelas vermelhas ou amarelas.

Índice de rejeição: menos que 1%.

Índice de captação de sorrisos : 100%.

Índice de felicidade no mundo: incalculável no momento.

Sei que o mundo pós pandemia está assim: difícil de se abrirem as janelas.

O medo de se contaminar com os humanos tomou conta da humanidade.

Mas confesso, fiquei feliz com o resultado.

Comprovou aquela arcaica teoria científica: onde há uma criança, há esperança.

Leonardo, meu grande cientista social.

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Izabella Cristo

Me Escondo Aqui. Escritora✒️, Cirurgiã🔪Mãe👻,em relacionamento sério com as palavras. Livros: Vida Nada Moderna, Retratos da quarentena. www.izabellacristo.com