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Materna idade – 12 de julho sexto

3 min readJul 12, 2025

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Há seis anos, pouco mais desta hora, eu estava descabelada, deitada na maca de um centro cirúrgico, temerosa, sim, mas não insegura. Sabia que estava sendo bem cuidada, e que o curso da vida seguiria o que era pra ser.

Abriram minha barriga, te vi pela primeira vez por reflexo no espelho do foco do centro cirúrgico. Não, não te vi a olhos nus. Vi tua imagem rápida, depois naquela caixinha, e me lembro de te achar tão distante. Eu queria você tão, tão perto.

Você foi pra sua caixinha, logo colocamos as mãos, entrelaçamos os indicadores nos dedinhos e no pé murcho, depois veio pros meus braços. Pegou o colo e depois o peito. Mamou veloz, e eu já logo fiquei de saco cheio. Não queria mais tão grudado. Menino, anda, cresce! E você foi lá e se apoiou. Andou os primeiros passos, puxou meus livros da estante. Quando vi, já bagunçava a casa inteira, corria pra lá e pra cá como um foguete. Menino mudo, não fala. Destrava a língua com a chave, pronto, começou a falar, não parou mais até hoje. A pista de corrida-sala ficou cheia de novos obstáculos, virou uma brinquedoteca do espaço sideral da imaginação, que sobrevive a diversas eras e patrulheiros, heróis, monstros, onde hoje dominam os dinossauros jurássicos ornando o colorido da minha sala antes monocromática.

Sim, porque minha vida era, antes de você, um tanto colorida, mas não tanto. Um tanto de emoções, mas não esse tantão. Um tanto de altos e baixos, de alegrias, dramas e tristezas, um tanto de vida, mas não tanta assim. Você me trouxe um tantão de coisas, essas coisas que a vida tem normalmente, mas no combo chamado maternidade e parentalidade.

Você me obriga a ser melhor, e eu não sou muito boa nisso, mas tento. Todos tentamos. Às vezes a gente consegue, às vezes nem tanto, mas não importa, na real. O que importa é sempre tentar ser o melhor de si. O melhor de todos, não só de mim, pra que você seja o melhor de si mesmo.

Nessa conta que não fecha, que nunca fechará, porque minha missão é te jogar para o mundo e não te atracar, por ora temos 6 anos. Seis tentativas temporais de vida, tão poucas, tão, mas tão muitas, tanto de bagagem que essa fada do dente trouxe nas asas. Ela te leva o primeiro dente de leite e deixa o primeiro resquício da maturidade, a primeira coisa permanente a pontilhar tua vida adulta.

São 6 anos que cada vez passam mais rápidos. E sei que irão passar cada vez mais. E quero te ver crescer, quero, vai, mas não quero. Não desejo te prender, não sou dessas apegadas, só não quero te esquecer, menino. Me recuso a deixar escapar os detalhes que realmente importam. O pé com os dedinhos perfeitos. O cabelo do Cebolinha. A janelinha no dente da frente. O dente de leite caído, sem trauma, guardado na caixinha de anjinho dos meus 15 anos, esperando a fada.

Que ela traga, não todos os teus desejos, mas a verdadeira plenitude, porque não se deve ter tudo que queremos. Você é prova disso. Você veio num instante em que não te queríamos, achávamos que não, mas já te queríamos. Porque a vida é também sobre o que se tem e o que faz , mais do que com o que se quer algumas vezes. E hoje, 12 de julho, comemoramos tua existência e já não desejamos viver sem você.

Vamos trocar ideias?

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Izabella Cristo
Izabella Cristo

Written by Izabella Cristo

Me Escondo Aqui. Escritora de prosa e poeta✒️ Cirurgiã🔪Mãe👻 Prêmio Caminhos com o romance mãezinha @sementinhahq @izabellacristoautora www.izabellacristo.com

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